quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Sobre Bombas Nucleares, Testes e Usos Estranhos (links)

Ois, todos!

Alguns sabem, outros não, mas eu trabalho em um reator nuclear (sim, por falta de um temos dois aqui em São Paulo, dentro do campus da USP), dou aulas sobre física nuclear e/ou energia nuclear e suas aplicações e, claro, sou um grande curioso sobre o assunto.

Hoje li uma matéria interessante, e tive a ideia de fazer uma breve compilação de usos estranhos, bizarros, etc., de bombas nucleares (o nome correto das bombas "atômicas") - esse tipo de coisa foi muito comum nos anos 50-70, aliás.

Essa é a postagem que me deu a ideia, mostrando usos tão diversos como apagar incêndios e extrair petróleo (não, nenhuma das ideias deu certo).

Aqui tem um vídeo interessante com a cronologia dos testes de bombas nucleares -foram mais de 2.000 explosões, a maioria entre os anos de 1945 e 1996, quando a maioria dos países assinou o "Tratado Abrangente de Proibição de Testes". Os testes, de modo geral, podiam ser de cinco tipos: superficiais (como os vistos, por exemplo, em filmes como "Indiana Jones e a Caveira de Cristal" ou, para os mais velhos como eu, "Supersnooper, um Tira Genial"), aéreos (vamos mostrar um exemplo aí pra frente), subterrâneos (as bombas são explodidas em buracos profundos, feitos pra desabar em cima de si mesmos, selando a área e impedindo o vazamento de radiação) ou subaquáticos (a ideia é parecida) - houve também alguns no espaço

A maioria dos testes foi filmada, mas apenas alguns estão disponíveis por aí... e, por eles (todos os que eu achei, americanos), dá pra ter uma ideia de como a coisa era primitiva nos anos 50-60...

Vejam, por exemplo, este em que os soldados são expostos à explosão, para verificar se há danos causados pela radiação (spoiler: não aparecem no filme, mas há!) - também há esse, com locução e som original.

Na época, os efeitos da radiação em humanos eram pouco conhecidos, então era praxe fazer uma série de testes, inclusive usando populações humanas, o que incluía desde expor alimentos a explosões e dar pra "cobaias" provarem até colocar cobaias humanas (soldados, claro) em posições estratégicas durante explosões - nesse teste aéreo, por exemplo, colocaram soldados logo abaixo da explosão...

Aos poucos, conforme foram sendo descobertos os males causados pela radiação (tanto ao homem quanto ao meio ambiente), os testes foram sendo modificados e, a partir do tratado citado acima, os únicos testes conhecidos e confirmados foram subterrâneos, feitos por Índia, Paquistão e Coreia do Norte.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Ondas Gravitacionais!

Desde que Einstein publicou sua teoria da relatividade geral, em 1915, os astrofísicos (cientistas que estudam a física do funcionamento do universo) previam que a teoria implicava na existência de ondas gravitacionais - e hoje, mais de 100 anos depois, cientistas nos EUA anunciaram que estas ondas foram observadas pela primeira vez na história! Isso é, sem dúvida, uma das maiores descobertas da física de todos os tempos, e uma comprovação muito forte de que a base que sustenta a teoria da relatividade geral está correta.

Mas, vamos por partes... o que são ondas gravitacionais?

Conforme a relatividade geral de Einstein, o universo pode ser entendido como um grande tecido, muito esticado. Na ausência de massas, esse tecido fica esticado, completamente liso, mas quando colocamos pesos (massas) sobre ele, as massas criam distorções nessa superfície (imagine um lençol esticado - onde você coloca uma bola de metal, ele "afunda"), e essas distorções seriam a gravidade que as demais massas iriam sentir (uma bola de gude, lançada nesse lençol ali de cima, iria orbitar o afundado onde está a bola de metal até chegar ao fundo, junto com ela, não?).

Até aqui você pode dizer que é só um outro jeito de pensar na gravidade, né? Só que aqui vem o ponto chave: se isso é verdade, então massas movendo-se pelo espaço gerariam ondas nessa superfície, bem parecidas com aquelas que você vê ao redor de uma lancha em movimento...

E essas são as tais "ondas gravitacionais".

A questão é que essas ondas seriam MUITO fracas, de modo que seria necessário um aparato extremamente sensível e algum corpo absurdamente pesado em movimento bem rápido para termos algo observável...

Nos últimos anos, foram construídos vários aparatos que teriam condições de medir ondas gravitacionais, entre eles o LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory), que usa a interferência entre feixes de laser - e este foi o laboratório que conseguiu finalmente "ver" as ondas gravitacionais causadas pela colisão entre dois grandes buracos negros - ou seja, duas massas enormes.

Ainda é muito cedo, não dá pra falar em aplicações ou mesmo em alguma física nova que possa vir a ser desenvolvida por conta dessa descoberta... mas a simples descoberta, 100 anos depois, de algo que foi previsto por uma das teorias mais célebres de todos os tempos, já é razão pra muita comemoração.


http://www.iflscience.com/space/gravitational-waves-observed-first-time

PS: Duas coisas que esqueci de colocar na postagem original:


1) As ondas gravitacionais detectadas se propagam à velocidade da luz; isso já era esperado, e significa que o gráviton (a partícula responsável pela atração gravitacional), se existir, não pode ter qualquer massa.

2) Algo a se pensar é que as ondas gravitacionais carregam consigo alguma energia, de modo que este processo de ondulação do espaço-tempo (o "tecido" do universo) rouba parte da energia do corpo que se move...

Ah, e aqui saiu um texto legal, bem completo e um tanto complexo (em português):
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2016/02/para-ficar-na-historia