quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Sobre Plutão e o novo "Planeta X"

Salvem, gentes!

Mal começa 2016 e já surge uma notícia curiosa... os mesmos astrônomos que "rebaixaram" Plutão (de planeta para "planeta anão") agora sugerem que haja outro planeta, muito mais distante, no sistema solar! Pra piorar a confusão, ele tem sido apelidado de Planeta X, que é um nome que já foi bastante usado no passado!

Mas, afinal... por quê "rebaixaram" Plutão, e por que agora sugerem esse novo planeta?

Vamos começar pelo começo... com a história de Plutão!

A história de Plutão é bem confusa...ainda no final do século XIX, astrônomos observaram que a órbita de Urano (que é um planeta significativamente maior que a Terra) tinha um formato que não poderia ser explicado usando a bem-estabelecida teoria da gravitação universal da época... uma solução que resolveria o enigma seria a presença de um planeta grande, mais distante do Sol, cuja gravidade interferiria na órbita de Urano. Pouco tempo depois, Netuno (que tem mais ou menos o mesmo tamanho de Urano) foi descoberto, exatamente onde previsto - só que, de acordo com os cálculos, o problema das órbitas ainda não estava resolvido!

Nessa época foi proposto que o sistema solar teria um nono planeta, batizado provisoriamente de "Planeta X", que seria o responsável pelas irregularidades nas órbitas todas. Devido à grande distância do Sol, esse planeta receberia pouca luz e isso, junto com a grande distância à Terra, faria com que ele fosse bem difícil de observar. Foram mais de 40 anos até que, em 1930, Plutão fosse oficialmente observado e nomeado. No começo, seu tamanho minúsculo (quase quinhentas vezes menor que a Terra, e menor até que a nossa Lua) fazia crer que ele não pudesse ser responsável pela perturbação observada nas órbitas de Urano e Netuno, então continuaram procurando por um Planeta X... alguns anos depois, observaram que Plutão tem cinco luas, uma delas (Caronte) com mais ou menos metade do seu diâmetro... colocando as massas das luas na conta, e levando em consideração que a órbita de Plutão é muito diferente das órbitas dos planetas conhecidos, as contas acabaram fechando e o tal Planeta X foi deixado pra lá.

Aliás, algumas curiosidades sobre a órbita de Plutão... as órbitas dos 8 planetas conhecidos são muito parecidas: estão todas praticamente sobre um mesmo plano (ou seja, considerando só o sol e os planetas, o sistema solar tem forma de disco, não de bola) e, apesar de serem todas elípticas, sua excentricidade (a diferença entre uma oval e um círculo) é bem pequena, de modo que as órbitas são quase circulares. Já a órbita de Plutão é completamente diferente, com uma inclinação de 17 graus em relação ao plano onde os outros planetas orbitam, e é extremamente excêntrica (ou seja, muito ovalada), tanto que em parte da sua órbita Plutão fica, de fato, mais próximo do Sol que Netuno!

Até por essas questões ligadas ao seu tamanho e à sua órbita, Plutão sempre foi visto como um planeta diferente dos demais. Só que, no final do século XX, com o aumento do poder dos telescópios, foram encontrados vários outros objetos (11 de tamanho considerável, e um - Éris - basicamente do mesmo tamanho de Plutão) com características parecidas com as de Plutão, todos no chamado "cinturão de Kuiper", na região logo após a órbita de Netuno. Essas observações deixaram uma questão fundamental na cabeça dos astrônomos: ou todos esses objetos (que também orbitam o nosso Sol) teriam que ser classificados como planetas, ou Plutão teria que ser classificado como eles.

A solução, bastante controversa à época, foi estabelecer regras rígidas para que um objeto pudesse ser classificado como planeta:

1) O objeto tem que orbitar ao redor do Sol;
2) O objeto tem que ser massivo o bastante para ser esférico por causa da sua própria gravidade; e
3) O objeto tem que ser capaz de ir limpando sua órbita enquanto circula (ou seja, ele precisa ir "pegando" os detritos que acha pelo caminho e incorporando a si mesmo - como a Terra faz com os asteróides, por exemplo).

Só que Plutão, apesar de passar nos dois primeiros testes, falhava no terceiro (há quem diga que ele foi feito só pra Plutão não passar e poder ser desclassificado, afinal é bem mais fácil tratar um sistema solar com 8 planetas com comportamento semelhante do que um com 21 de comportamentos distintos). Que quer dizer isso? Que a gravidade de Plutão é tão fraca que os asteróides que passam perto dele são incorporados como luas, ao invés de serem atraídos para a superfície.

Ótimo, problema resolvido. Criaram a categoria "planeta anão", o sistema solar ficou com 8 planetas e 12 planetas anões (entre eles Plutão).

Só que aí, com o aumento ainda maior da capacidade dos telescópios, tem sido possível observar o comportamento de milhares de objetos minúsculos no tal "Cinturão de Kuiper", e eles parecem se comportar como se estivessem sendo atraídos por uma massa bastante grande - umas dez vezes a Terra - que orbitaria o Sol.

Advinha como batizaram, provisoriamente, esse novo corpo? Planeta X, de novo (ainda que ele não possa ter nada a ver com o Planeta X anterior, que foi descartado).

E, antes que alguém se pergunte se não é forçar demais a barra propôr a existência de um planeta baseado só nos seus efeitos gravitacionais sobre outros objetos, é bom lembrar que foi assim que Netuno e Plutão foram descobertos, originalmente...

Enfim, é a velha história: quanto mais cresce nossa capacidade de observar o universo (seja no sentido de ver coisas mais distantes e mais escuras, ou no de ver coisas cada vez menores, como as partículas elementares), mais o conhecimento científico vai sendo testado - e é exatamente nessa seqüência de testes, que eventualmente podem levar a alterações na teoria, que por sua vez levam a mais testes, e por aí vai, que reside a beleza (e o poder) da ciência. Ela nunca é estática, está sempre sendo testada, evoluindo para responder aos resultados mais novos, e assim por diante.

...mas que podiam ter batizado esse novo "talvez planeta" por outro nome que não Planeta X, isso podiam!

Abraços!!!!!!!!!

PS: Hoje saiu mais uma matéria sobre a história do Planeta X, em portugues:
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/em-busca-do-nono-planeta

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Feliz Ano Novo (mas o que é um ano, mesmo?)

Olhando pro final do ano, me lembrei desse texto que escrevi há alguns anos...

Afinal... é ano novo. Mas o que é um ano? E por quê ele começa agora?

Lá nos confins da história, em algum momento pouco sabido, alguém achou que seria útil medir o tempo em um período que encampasse as 4 estações, criando o que hoje chamamos de "ano"... 

Entre ajustes, encontros e desencontros, esse tal de "ano" virou nossa medida essencial pra muita coisa, e em 1582 o Papa Gregório deu toques "atuais" pro tal "ano" (a história é interessante, vale a leitura, mas enfim o tal calendário gregoriano só foi finalmente aceito por todo o mundo no início do século XX, acreditem se quiserem!) e, assim, ficamos com esse calendário que vai de 1o de Janeiro a 31 de Dezembro... 

Aliás, vale dizer, esse é o calendário "oficial" do mundo, mas que na teoria só é o calendário oficial de algo como 1/5 da população mundial (afinal, Judeus, Budistas, Muçulmanos e Cristãos Ortodoxos, entre outros, têm seus próprios calendários)... 

De qualquer jeito, a coisa andou, e alguém aí inventou de definir metas e fazer avaliações a cada "ano" (claro, também inventaram a coisa da roupa branca - hoje mais amarela que tudo, afinal todo mundo quer é dinheiro, mesmo quando fala em paz - a queima de fogos de Copacabana e a ceia de réveillon) e coisa e tal...

Daí fiquei pensando, diante dessa reflexão toda, e cheguei a uma conclusão... se é pra querer algo pro ano novo, é que seja uma continuação digna pro anterior... que as coisas continuem andando, sempre pra frente, sem saltos nem sobressaltos... e que, no fim de mais um ciclo solar desses, eu possa olhar pra trás como olho pra esse que está terminando e pensar: pô, gostei.

Beijos a todos, com direito a muita lentilha, roupa branca (ou amarela, ou verde, ou roupa alguma, o que cada um preferir!), sementes de uva, champagnes, Cidra Cereser e coisa e tal!

 E vamos em frente que atrás vem gente!